Paulo Frederico Soriano Dobbin*
No início de 1964 o Brasil estava à beira do abismo. Uma inflação galopante e um governo fraco, em sua maioria, composto de radicais de esquerda que estimulavam e instigavam a indisciplina nas Forças Armadas para, assim, tentar vergar sua coluna vertebral, sempre apoiada no binômio hierarquia e disciplina, pilares constitucionais de sua base organizacional.
Caminhávamos, celeremente para nos tornar uma república sindical.
Todo esse processo de deliberada instalação do caos no país, debilitando seu Poder Militar e as instituições civis, certamente se encontram nos arquivos desse jornal, como de toda a imprensa da época. São inúmeros os registros dos episódios protagonizados pelo governo e que antecedem a março de 1964, como a Revolta dos Sargentos de Brasília, a reunião do presidente da República com praças das Forças Armadas e Auxiliares no Automóvel Clube, a amotinação de cabos e marinheiros no Sindicato dos Metalúrgicos e muitos outros graves episódios.
Havia, sim, uma revolução em marcha. Aquela que, em pleno panorama bipolar e irracional “Leste-Oeste”, queria fazer triunfar, no Brasil, como já ocorrera em outros países, o regime do partido único, da única verdade, da imprensa única. Enfim, do obscurantismo, também único.
Em contrapartida a essa situação, nascida no seio da sociedade civil, também se pôs em marcha uma contrarrevolução, imediatamente apoiada pelos militares. Heroicamente comandada pelas mulheres brasileiras, a sociedade, aos milhares, fez-se às ruas em defesa da democracia.
Os homens de bem deste país não podiam ficar alheios ao clamor. Toda a grande Imprensa, a Igreja, a OAB, a ABI, políticos e outras significantes instituições aderiram, na primeira hora, ao contragolpe brasileiro.
Cumpre-me registrar, orgulhoso, que naqueles dias de mares encapelados, este clube foi sede da resistência, um quartel-general onde destemidos oficiais se uniram para manter erguida a bandeira da liberdade.
Tudo isso, senhor presidente, está fartamente documentado no novo sítio eletrônico dessa portentosa organização.
E, passado quase meio século daqueles dias, vem agora o jornal confessar que cometeu um erro. Essa nova postura editorial nos leva a refletir, perplexos, que a pena de Roberto Marinho deveria, pois, ter apoiado o estado de coisas de então. Inimaginável.
Trata-se, portanto, de um mea culpa decepcionante para a memória dos que acompanharam aqueles dramáticos episódios da vida nacional. Em vez de erro, seria mais aceitável assumir eventuais divergências com os rumos que o movimento de 64 tomou, segundo o entendimento do jornal.
Ledo engano acreditar que, assim procedendo, estão as Organizações Globo seguindo a vontade da Nação. Esta, por certo, nunca renegou seus valores morais e sua tradição cultural. Jamais correu atrás de grupos minoritários, escandalosamente estrepitosos e detentores de subfilosofias de alta rotatividade, sempre ao sabor dos eventuais donos do poder. Longe disso, a esmagadora maioria da sociedade deseja ordem, decência, prosperidade e coerência.
E é por isso, senhor Presidente, que as Forças Armadas da nação brasileira, cujo nascimento coincide com o alvorecer da própria Pátria, continuam, desde sempre, a liderar pesquisas de opinião sobre a credibilidade das instituições nacionais. Não têm do que se arrepender.
Sabemos ser possível mudar de nome, de nacionalidade, de clube, até de sexo.
Mas, é impossível mudar a História.
*Vice-Almirante (Ref-FN) - Presidente