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8 de mar. de 2013

PROFECIA DE VIDENTE



 “ Aqueles que querem fazer feliz a humanidade, jamais fazem a felicidade dos homens”
                                                         Claude Imbert

Carlos Augusto Fernandes dos Santos*

            Há cinquenta anos, uma afirmação era repetida por um colega , sempre que nos reuníamos em costumeiras conversas, para  discutir os crônicos e insolúveis problemas brasileiros que afligiam os mais conscientes . Era um tempo em que os arroubos   de jovens tenentes impulsionados por elevado senso de patriotismo e idealismo emolduravam o imaginário da  juventude militar. Depois de intensas discussões, com ironia e uma ponta de sarcasmo, descrença e desilusão, ele sempre repetia a mesma arenga: “Se melhorar, vai piorar ....”.
            Meditando, hoje,  sobre aquela frase contraditória e fazendo um inventário dos avanços ocorridos em nosso país em mais de meio século, somos obrigados a reconhecer que ele efetivamente cresceu e desenvolveu-se e ,  em múltiplos  aspectos,  melhorou; entretanto, essas conquistas poderiam ter sido obtidas sem que a sociedade brasileira tivesse que ter pago tão elevado custo, consequência, em muitos períodos , da falácia, do engodo  e da  irresponsabilidade de  governos populistas.
            Um analista atento não terá dificuldade em  concluir que  historicamente crescemos e nos desenvolvemos de maneira espasmódica e de forma desordenada, sempre ao sabor das circunstâncias. Os surtos de desenvolvimento retratam um traço prevalente  de nossa cultura política, mostrando que, via de regra, as melhorias foram e são  acompanhadas por altos índices de improvisação e desperdício,   potencializados  por lastimáveis  taxas de corrupção.
            O dinheiro público e as verbas obtidas com o sacrifício dos brasileiros, obrigados a pagar  impostos escorchantes,  são empregados em obras superfaturadas onde se privilegia,  em inúmeros casos, o secundário em detrimento do principal. Basta citar, como exemplos, o montante que vem sendo despendido de dinheiro público para a construção de determinados  Estádios de Futebol que, terminada a Copa do Mundo, ficarão  praticamente vazios.
            Uma rápida fotografia dos principais setores da vida nacional, confirma as mencionadas assertivas, nos dando motivos suficientes para concordar com o  vaticínio pessimista  de nosso colega. Senão vejamos:
- Na área da EDUCAÇÃO, um maior contingente de compatriotas frequenta hoje a escola, benefício  que no passado era privilégio de poucos brasileiros. Em contrapartida, o nível de conhecimento geral dos  professores e o prestígio da profissão, teve acentuada queda, agravada pelo pagamento  de  proventos constrangedores que tem afastado   os mais capazes dessa nobre servidão.
Para piorar a situação, o injusto  sistema de cotas, adotado por lei aprovada recentemente, trás no bojo o vício de permitir que jovens menos qualificados acessem a Universidade, em detrimento de outros que, no mesmo concurso universal,  obtiveram maior mérito intelectual. Com o objetivo de reparar histórica iniquidade, comete-se  irreparável injustiça;
- No setor da  SAÚDE, apesar dos esforços dos  programas de vacinação em massa, da erradicação de  doenças endêmicas e epidêmicas e de um  maior acesso de pessoas   atendidas pelo  Serviço Único de Saúde (SUS), a qualidade deixa muito a desejar, mostrando diariamente as chagas de um sistema deficiente, sobrecarregado e anacrônico, que obriga os mais carentes a disputarem e aguardarem consultas e cirurgias por longos períodos de tempo. Um retrato deprimente do descaso com que tratamos nossos compatriotas;
- No terreno dos TRANSPORTES, apesar das inúmeras obras de infraestrutura nas três esferas executivas do poder,  a circulação de mercadorias e de pessoas e o transporte da riqueza nacional  mostram uma espantosa e constrangedora realidade: portos ineficientes que encarecem os produtos exportados e  importados; aeroportos congestionados e ineficazes que causam desconforto aos usuários e que comprometem a imagem do país junto à comunidade internacional;  estradas de rodagem  mal conservadas, resultado de uma manutenção deficiente  que  agrava  os custos operacionais e o preço dos produtos finais; um sistema ferroviário inexpressivo, com reduzida e desatualizada  malha ferroviária,   desproporcional à vasta  extensão territorial do país  e   um sistema de navegação interior risível, apesar do país possuir uma das maiores bacias  hidrográficas do mundo.             Enfim, uma matriz viária que retrata o descompasso do nosso crescimento desordenado e o descaso de sucessivos e ineficientes governos.
Agravam essa lastimável situação os índices de mobilidade  urbana nas principais capitais dos Estados federados, submetidas diariamente a longos engarrafamentos, provocados por uma crescente frota de veículos particulares. As medidas adotadas para a melhoria do transporte coletivo  mostram-se incapazes de   minorar esse angustiante problema, resultando, como consequência, desperdício de tempo e de dinheiro;
- Na área da SEGURANÇA, índices assustadores de violência, exponencializados pelo fantasma das drogas,  revelando  a falência do planejamento governamental no trato dessa área vital para o desenvolvimento da nação. Sabemos que nunca houve em nosso país, uma permanente e eficaz mentalidade de segurança pública, tema que  só agora começa a ser tratado com a seriedade necessária.
- Mas é na atividade  POLÍTICA que reside a nossa maior degradação. Essa importante  tarefa  vem sendo exercida, cada vez mais, por indivíduos espertos e despreparados ( respeitadas as  exceções ) , que tornaram essa atividade  um grande negócio: a maioria oriunda do meio sindical ou das hostes da esquerda radical marxista que, durante o período dos governos militares, apoiaram  e ostensivamente participaram da luta armada, alegando, hoje, que assim procediam para restabelecer a “democracia” no país: uma hipocrisia sem nome.
            Depois que empolgaram o poder, na busca pela  governabilidade os governos chefiados por  LULA e DILMA cooptaram partidos e políticos adeptos do fisiologismo que   aviltaram-se, abrindo mão de seus programas e de  princípios éticos, subordinando  os mais nobres interesses da nação, aos conchavos que lhes garantem a repartição tranquila da máquina governamental.
            Ainda agora, faltando praticamente a metade de seu mandato, açodadamente  a Presidente concorda em  participar de eventos políticos, à tiracolo do ex-presidente,  com a clara intenção de preparar os caminhos para sua reeleição e a manutenção do poder.
            Lastreados em benefícios fornecidos por programas sociais que acenam inúmeras benesses de resultados discutíveis, mas de dividendos eleitoreiros evidentes, vendem facilidades como se estivéssemos em uma grande feira: um mercado de falsas ilusões.
            Lastimável é constatar que não existe uma oposição capaz  de enfrentar essas práticas nefastas e de denunciar a perversa inconveniência do Instituto da Reeleição, em um país em que os representantes do povo desprezam as regras básicas da   convivência política civilizada. Caminhamos celeremente para a “mexicanização” da política brasileira com a adoção do Partido Único.
Sem dúvida, para  parcela significativa de brasileiros a vida   perdeu qualidade e piorou”,   apesar dos evidentes avanços (tecnológicos) ocorridos  nas  áreas mencionadas.
            Nosso colega estava absolutamente certo, quando, há cinquenta anos, vaticinava essa diabólica e incômoda realidade. Como vemos, profecia de vidente.
                                               Porto Alegre, 03 de março de 2013
                                              
* General Reformado  

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