“
Aqueles que querem fazer feliz a humanidade, jamais fazem a felicidade dos
homens”
Claude Imbert
Carlos
Augusto Fernandes dos Santos*
Há cinquenta anos, uma afirmação era
repetida por um colega , sempre que nos reuníamos em costumeiras conversas,
para discutir os crônicos e insolúveis problemas brasileiros que afligiam
os mais conscientes . Era um tempo em que os arroubos de jovens
tenentes impulsionados por elevado senso de patriotismo e idealismo emolduravam
o imaginário da juventude militar. Depois de intensas discussões, com
ironia e uma ponta de sarcasmo, descrença e desilusão, ele sempre repetia a
mesma arenga: “Se melhorar, vai piorar ....”.
Meditando, hoje, sobre aquela
frase contraditória e fazendo um inventário dos avanços ocorridos em nosso país
em mais de meio século, somos obrigados a reconhecer que ele efetivamente
cresceu e desenvolveu-se e , em múltiplos aspectos, melhorou;
entretanto, essas conquistas poderiam ter sido obtidas sem que a sociedade
brasileira tivesse que ter pago tão elevado custo, consequência, em muitos
períodos , da falácia, do engodo e da irresponsabilidade de
governos populistas.
Um analista atento não terá
dificuldade em concluir que historicamente crescemos e nos
desenvolvemos de maneira espasmódica e de forma desordenada, sempre ao sabor
das circunstâncias. Os surtos de desenvolvimento retratam um traço
prevalente de nossa cultura política, mostrando que, via de regra, as
melhorias foram e são acompanhadas por altos índices de improvisação e
desperdício, potencializados por lastimáveis taxas de
corrupção.
O dinheiro público e as verbas
obtidas com o sacrifício dos brasileiros, obrigados a pagar impostos
escorchantes, são empregados em obras superfaturadas onde se
privilegia, em inúmeros casos, o secundário em detrimento do principal.
Basta citar, como exemplos, o montante que vem sendo despendido de dinheiro
público para a construção de determinados Estádios de Futebol que,
terminada a Copa do Mundo, ficarão praticamente vazios.
Uma rápida fotografia dos principais
setores da vida nacional, confirma as mencionadas assertivas, nos dando motivos
suficientes para concordar com o vaticínio pessimista
de nosso colega. Senão vejamos:
-
Na área da EDUCAÇÃO, um maior contingente de compatriotas
frequenta hoje a escola, benefício que no passado era privilégio de
poucos brasileiros. Em contrapartida, o nível de conhecimento geral dos
professores e o prestígio da profissão, teve acentuada queda, agravada pelo
pagamento de proventos constrangedores que tem afastado
os mais capazes dessa nobre servidão.
Para
piorar a situação, o injusto sistema de cotas, adotado por lei aprovada
recentemente, trás no bojo o vício de permitir que jovens menos qualificados
acessem a Universidade, em detrimento de outros que, no mesmo concurso
universal, obtiveram maior mérito intelectual. Com o objetivo de reparar
histórica iniquidade, comete-se irreparável injustiça;
-
No setor da SAÚDE, apesar dos esforços dos programas
de vacinação em massa, da erradicação de doenças endêmicas e epidêmicas e
de um maior acesso de pessoas atendidas pelo Serviço
Único de Saúde (SUS), a qualidade deixa muito a desejar, mostrando diariamente
as chagas de um sistema deficiente, sobrecarregado e anacrônico, que obriga os
mais carentes a disputarem e aguardarem consultas e cirurgias por longos
períodos de tempo. Um retrato deprimente do descaso com que tratamos nossos
compatriotas;
-
No terreno dos TRANSPORTES, apesar das inúmeras obras de
infraestrutura nas três esferas executivas do poder, a circulação de
mercadorias e de pessoas e o transporte da riqueza nacional mostram uma
espantosa e constrangedora realidade: portos ineficientes que encarecem os
produtos exportados e importados; aeroportos congestionados e ineficazes
que causam desconforto aos usuários e que comprometem a imagem do país junto à
comunidade internacional; estradas de rodagem mal conservadas,
resultado de uma manutenção deficiente que agrava os custos
operacionais e o preço dos produtos finais; um sistema ferroviário
inexpressivo, com reduzida e desatualizada malha ferroviária,
desproporcional à vasta extensão territorial do país e
um sistema de navegação interior risível, apesar do país possuir uma das
maiores bacias hidrográficas do mundo. Enfim,
uma matriz viária que retrata o descompasso do nosso crescimento desordenado e
o descaso de sucessivos e ineficientes governos.
Agravam
essa lastimável situação os índices de mobilidade urbana nas principais
capitais dos Estados federados, submetidas diariamente a longos
engarrafamentos, provocados por uma crescente frota de veículos particulares.
As medidas adotadas para a melhoria do transporte coletivo mostram-se incapazes
de minorar esse angustiante problema, resultando, como
consequência, desperdício de tempo e de dinheiro;
-
Na área da SEGURANÇA, índices assustadores de violência,
exponencializados pelo fantasma das drogas, revelando a falência do
planejamento governamental no trato dessa área vital para o desenvolvimento da
nação. Sabemos que nunca houve em nosso país, uma permanente e eficaz
mentalidade de segurança pública, tema que só agora começa a ser tratado
com a seriedade necessária.
-
Mas é na atividade POLÍTICA que reside a nossa maior
degradação. Essa importante tarefa vem sendo exercida, cada vez
mais, por indivíduos espertos e despreparados ( respeitadas as exceções )
, que tornaram essa atividade um grande negócio: a maioria oriunda do
meio sindical ou das hostes da esquerda radical marxista que, durante o período
dos governos militares, apoiaram e ostensivamente participaram da luta
armada, alegando, hoje, que assim procediam para restabelecer a “democracia”
no país: uma hipocrisia sem nome.
Depois que empolgaram o poder, na
busca pela governabilidade os governos chefiados por LULA e DILMA
cooptaram partidos e políticos adeptos do fisiologismo que
aviltaram-se, abrindo mão de seus programas e de princípios éticos,
subordinando os mais nobres interesses da nação, aos conchavos que lhes
garantem a repartição tranquila da máquina governamental.
Ainda agora, faltando praticamente a
metade de seu mandato, açodadamente a Presidente concorda em
participar de eventos políticos, à tiracolo do ex-presidente, com a clara
intenção de preparar os caminhos para sua reeleição e a manutenção do poder.
Lastreados em benefícios fornecidos
por programas sociais que acenam inúmeras benesses de resultados discutíveis,
mas de dividendos eleitoreiros evidentes, vendem facilidades como se
estivéssemos em uma grande feira: um mercado de falsas ilusões.
Lastimável é constatar que não
existe uma oposição capaz de enfrentar essas práticas nefastas e de
denunciar a perversa inconveniência do Instituto da Reeleição, em
um país em que os representantes do povo desprezam as regras básicas
da convivência política civilizada. Caminhamos celeremente para a “mexicanização”
da política brasileira com a adoção do Partido Único.
Sem
dúvida, para parcela significativa de brasileiros a vida
perdeu qualidade e “piorou”, apesar
dos evidentes avanços (tecnológicos) ocorridos nas áreas
mencionadas.
Nosso colega estava absolutamente
certo, quando, há cinquenta anos, vaticinava essa diabólica e incômoda
realidade. Como vemos, profecia de vidente.
Porto Alegre, 03 de março de 2013
*
General Reformado